Diagnóstico e tratamento precoces podem salvar milhões de vidas
Dia Mundial de Chagas 2022
A doença de Chagas é a infecção parasitária mais letal das Américas, afetando principalmente as populações mais vulneráveis e com acesso limitado a serviços de saúde. Endêmica em 21 países da América Latina, também pode ser encontrada nos Estados Unidos, Japão, Austrália e alguns países da Europa.
Uma pessoa pode viver durante anos, às vezes uma vida inteira, sem saber que tem a doença de Chagas. Apenas 30% dos indivíduos com a enfermidade são diagnosticados e cerca de 1% tem acesso aos medicamentos adequados a cada ano.
Se não é tratada, a doença de Chagas pode causar danos irreversíveis ao coração e a outros órgãos vitais, comprometendo a vida no trabalho e perpetuando ciclos de pobreza.
Neste Dia Mundial de Chagas (14 de abril), Dia Mundial de Chagas, a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas vai se unir à Organização Mundial da Saúde, Coalizão Chagas e diversos parceiros internacionais num esforço global de conscientização a respeito da enfermidade. Quanto mais informação estiver disponível sobre a doença de Chagas, maiores serão as chances de tornar o diagnóstico e o tratamento acessíveis a todos que precisam e de eliminá-la como problema de saúde pública.
José Aguilar, Bolívia
José Aguilar tem 30 anos e nasceu em Cochabamba, Bolívia. Em 2009, iniciou seu primeiro tratamento para a doença de Chagas, mas o abandonou 15 dias depois devido a uma reação alérgica.
Benznidazol e nifurtimox, descobertos há meio século, são os únicos medicamentos disponíveis para Chagas. Embora eficazes durante os primeiros estágios da doença, eles exigem um tratamento de dois meses, podem causar efeitos secundários desagradáveis e nem sempre funcionam em casos mais avançados.
José continua em busca da cura e aguarda a oportunidade de terminar seu tratamento, pois sabe que Chagas é uma infecção silenciosa que pode impedi-lo de ver seus três filhos crescerem.
A busca por tratamentos pioneiros a partir de novas moléculas
Desde sua fundação, a DNDi emprega múltiplas estratégias para desenvolver novos tratamentos e atender às necessidades das populações afetadas pela doença de Chagas.
Em 2013, criamos o Lead Optimization Latin America (LOLA), um projeto inovador que almeja encontrar candidatos pré-clínicos para a doença de Chagas, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de São Paulo. Ao mesmo tempo em que o consórcio segue os modelos de excelência dos grandes institutos globais de pesquisa, todo o trabalho de investigação é voltado para o contexto das populações dos países endêmicos.
Sara Duarte, Colômbia
Sara Duarte vive na Colômbia com o marido, duas filhas e o filho pequeno. Quando criança, brincar com barbeiros em garrafas era algo frequente, o que a faz imaginar ter contraído a doença de Chagas há muito tempo.
Sara encontra-se em tratamento no município de Soatá, parte do departamento de Boyacá. “Onde nasci, as casas são feitas de adobe ou pedras. Eu via essas pequenas criaturas correndo e, à noite, sentia as mordidas. A médica explicou que a doença de Chagas afeta os órgãos, principalmente o coração. Como eu estava grávida, ela disse que não poderia receber tratamento naquele momento, só depois que parasse de amamentar.
Fiquei pensando: 'Espero que meu bebê não nasça com a doença'."
Acelerar o acesso a diagnóstico e tratamento
Soatá é um dos municípios colombianos incluídos no Programa de Eliminação de Barreiras de Acesso à Doença de Chagas desenvolvido pela DNDi. Enquanto pesquisamos para aprimorar os esquemas de tratamento com benznidazol e desenvolver novas alternativas terapêuticas, estamos, desde 2015, implementando soluções que ajudam a superar barreiras no diagnóstico e tratamento da doença de Chagas.
A experiência-piloto colombiana, conduzida em parceria com o Ministério da Saúde e Proteção Social e o Instituto Nacional de Saúde do país, permitiu simplificar o processo de diagnóstico e reduzir o tempo até o início do tratamento, fortalecendo os sistemas locais e contribuindo para eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública. Os bons resultados levaram à expansão do projeto para a Guatemala.
Jessica, Estados Unidos
Jessica, que vive em Los Angeles (Califórnia, EUA), lembra-se de ter visto barbeiros, ou 'chinches', no chão da casa de adobe em que morou quando criança em El Salvador. Mas foi só quando foi a uma feira de saúde em uma igreja perto de Van Nuys, também na Califórnia, que ela entendeu que esse inseto poderia infectar uma pessoa com a doença de Chagas. Um mês depois de fazer o teste, recebeu o diagnóstico positivo para a enfermidade e foi submetida a um tratamento com benznidazol. Jessica não enfrentou os efeitos colaterais frequentemente associados ao medicamento e completou o curso de tratamento sem problemas. Agora ela está ansiosa pelo futuro.
Alguns dos meus amigos mais próximos acham que sou contagiosa e não querem dividir um copo comigo. Mas me sinto completamente bem, estou saudável e sei que ficarei bem. Quero começar uma família”, disse Jéssica, referindo-se a um equívoco comum sobre Chagas, que não é transmitido por contato pessoal.
Identificando barreiras no acesso ao tratamento
Nos Estados Unidos, a DNDi colaborou com o Centro de Excelência para Doença de Chagas do Olive View-UCLA Medical Center, em Los Angeles, para identificar as principais barreiras de acesso e promover diagnóstico e tratamento em comunidades afetadas pela enfermidade. Por meio do projeto, foi publicado o primeiro estudo de prevalência em larga escala para Chagas em uma grande cidade dos Estados Unidos, descrevendo os resultados do programa comunitário de diagnóstico. Dos quase 5.000 residentes latino-americanos do condado de Los Angeles que participaram do estudo, 1,24% apresentaram diagnóstico positivo para Chagas.
A DNDi também tem auxiliado profissionais de saúde, pesquisadores, especialistas em saúde pública e outros que trabalham para melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento da doença de Chagas nos EUA. Em 2017, participamos do processo de submissão do benznidazol pela InSud Pharma para aprovação da Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora norte-americana. Mais recentemente, colaboramos com grupo de trabalho de especialistas que publicou recomendações de diagnóstico, e continuamos a firmar parcerias com iniciativas locais em todo o país para abordar questões específicas, como a falta de testes diagnósticos em centros de saúde.
O acesso à informação é fundamental!
Profissionais de saúde muitas vezes não têm acesso às informações necessárias para ajudar a identificar e tratar as pessoas afetadas pela doença de Chagas. Pensando nisso, a DNDi e seus parceiros desenvolveram o iChagas, um aplicativo que fornece a médicos e pesquisadores evidências médico-científicas mais recentes sobre diagnóstico e tratamento.
Você tem a doença de Chagas?
Se você suspeita que possa ter a doença de Chagas, procure a unidade de saúde mais próxima para obter atendimento. Os links abaixo são bons pontos de partida para saber mais sobre sintomas, diagnóstico e tratamento:
Coalizão Chagas (em espanhol)
The Centers for Disease Control (em espanhol)
Drugs for Neglected Diseases initiative (DNDi) is a collaborative, patients' needs-driven, non-profit drug research and development organization that is developing new treatments for neglected diseases.